Vamos a caça dos mitos
No texto anterior, questionamos a dificuldade maior de ascensão das mulheres no mercado de trabalho, mesmo com tantos indicativos (e predicados) que teoricamente as colocariam em vantagem em relação aos colegas do sexo oposto. Rememorando, elas correspondem a 58% dos estudantes universitários, 44% da força de trabalho, mas ocupam apenas 14% dos cargos executivos e não passam de 4% dos CEOs. Incrível, não?
Uma coisa é certa: esse quadro não mudará enquanto o tema não for discutido amplamente.
Ah, Marcelo, as mulheres são menos ambiciosas que os homens. Já ouvi isso até de mulheres. #sqn Em resposta a um estudo da Bain Co, 66% das nossas colegas disseram querer chegar a um cargo executivo. Entre os homens, 72%. Estatisticamente, um empate técnico.
Então, decididamente, não é por aí...
Estudo do McKinsey Global Institute (2014) mostra que há forte correlação entre o nível de diversidade de gênero na sociedade e no mercado de trabalho. Fatores que contribuem para o crescimento das mulheres na sociedade são educação, inclusão financeira e digital e proteção legal. O que emperra a coisa: dedicar-se 3x mais do que homens ao cuidado com a família e trabalho doméstico não remunerado. No Brasil e no mundo, 75% do trabalho doméstico é feito por mulheres.
Sigamos: 56% das mulheres possuem emprego remunerado. No entanto, 33% delas estão em empregos de apenas 30 horas semanais. Indo mais fundo, descobrimos que mulheres com filhos até 3 anos de idade correspondem a 54% (entre pretas e pardas 49%)e sem filhos a 67%. Com os homens acontece o contrário: 89% com filhos trabalham.
Na contramão da qualificação universitária, a publicação EPI (English Proficiency Index-2021) da EF mostra que o investimento em idiomas por parte das mulheres é menor. Voltaremos a este ponto. O estudo também revela que existe correlação positiva entre o domínio do inglês e a mobilidade social.
Os estudos já mencionados e o artigo da professora Lygia Hryniewicz da FGV EBAPE (2018) dividem em três grupos as dificuldades que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho:
45% - Prioridades conflitantes: equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, estilo de vida e aspirações pessoais, demandas da vida familiar e filhos, pouco investimento em capital social (networking).
32% - Diferenças de Estilo: falta de valorização de um perfil diferente na hora da promoção ou remuneração.
23% - Viés Organizacional: cultura organizacional dominantemente masculina, preconceito (maternidade) e resistência à liderança da mulher.