O número de empresas com uma área de sustentabilidade saltou de 34% para 60% em apenas um ano, de 2021 para 2022 – e precisa crescer mais

Além de diversidade, inclusão, equidade e inovação, o desenvolvimento sustentável deve ser um ponto de atenção de todo líder — atitude necessária para a saúde tanto do negócio quanto do mundo em que vivemos. Não por acaso a preocupação com o meio ambiente tem se tornado parte essencial da cultura organizacional das empresas.

Neste modo de agir, fazem parte não apenas práticas que atuem pela preservação da natureza, mas também a iniciativa de capacitar os profissionais para essa virada de chave que vem transformando as corporações.

Embora o desenvolvimento sustentável seja algo maior do que a preocupação ambiental, este também é um pilar sobre o qual as empresas devem refletir de forma profunda. E, de acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o tema está em uma alta vertiginosa no Brasil.

De 2021 para 2022, o número de empresas com uma área ou departamento de sustentabilidade aumentou de 34% para 60%, e a proporção de empresários que disseram exigir certificados ambientais de fornecedores e parceiros subiu de 26% para 45%.

Desenvolvimento sustentável é um modelo de desenvolvimento que visa atender às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender às suas próprias necessidades. Esse conceito foi definido pela primeira vez no Relatório Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, em 1987. Desde então, o termo só ganhou importância.

O desenvolvimento sustentável se dá por ações baseadas no tripé da sustentabilidade: econômico, social e ambiental. Isto é, os objetivos do desenvolvimento sustentável buscam conciliar o progresso econômico com a preservação ambiental e a justiça social, visando garantir um futuro viável para a humanidade.

No pilar ambiental estão preocupações como proteger o meio ambiente e promover a sustentabilidade dos recursos naturais, assegurando que as gerações futuras possam usufruir de um planeta saudável e equilibrado. Isso inclui, a redução do uso de recursos não renováveis, a mitigação dos impactos ambientais e a promoção da conservação da biodiversidade.

Os líderes têm um papel fundamental na promoção da sustentabilidade ambiental, ao levarem suas empresas a adotarem novas iniciativas de gestão ambiental, como a redução do consumo de energia, água e matérias-primas, a utilização de fontes de energia renovável, a promoção do uso de transportes mais sustentáveis e a implementação de políticas de gestão de resíduos e de emissões de gases de efeito estufa.

Além disso, existem práticas de responsabilidade social corporativa, tais como o apoio a projetos de conservação ambiental, o incentivo ao engajamento dos seus colaboradores em ações de sustentabilidade e o estímulo ao consumo consciente por parte dos seus clientes.

Uma pesquisa da Fujitsu de 2022, porém, revelou uma lacuna entre a percepção e a realidade de muitas organizações quando o tema é "transformação sustentável": 61% das organizações afirmam estar avançadas em suas jornadas de sustentabilidade, mas na verdade menos de 10% delas concluíram alguns dos principais requisitos para isso, como desenvolver cadeias de suprimentos sustentáveis (9%) e zerar emissões de carbono (2%).

A preferência por materiais recicláveis e/ou biodegradáveis é fundamental para a sustentabilidade empresarial, pois esses insumos têm menor impacto, ao serem reaproveitados ou por sua capacidade de se degradar naturalmente no meio ambiente.

No entanto, embora pesquisas mostrem que a reciclagem é o item mais lembrado por consumidores para a preservação ambiental, o panorama brasileiro ainda deixa a desejar: apenas 4% dos resíduos sólidos que poderiam ser reciclados são enviados para esse processo no Brasil. Regulamentado em abril de 2022, o Plano Nacional dos Resíduos Sólidos (Planares) tem como meta elevar esse número para 48% até 2040.

O uso racional da água e da energia elétrica é outra prática importante em empresas sustentáveis. Ambas são recursos naturais finitos, e seu uso excessivo pode gerar desperdício e impactos ambientais negativos.

Nesse cenário, qual o papel das empresas no desenvolvimento sustentável? É fundamental que elas adotem medidas para reduzir seu consumo de água e energia elétrica, por meio de ações como a instalação de sistemas de captação de água da chuva, o uso de lâmpadas LED e a adoção de políticas de gestão de resíduos.

No Brasil, segundo um levantamento da Confederação Nacional da Indústria, cerca de 80% das empresas disseram ter iniciativas para melhorar processos de produção e otimizar o consumo de energia e de água, mas apenas 48% já usam fontes renováveis em sua produção. A energia é o principal foco dos investimentos em sustentabilidade para 2023: 37% dos entrevistados disseram ser essa a primeira ou a segunda prioridade na alocação de recursos.

Investir em treinamentos sobre sustentabilidade é quase tão importante quanto elaborar ações concretas na empresa, pois permite estender esse pensamento para fora do ambiente organizacional.

Os treinamentos podem capacitar os funcionários da empresa a adotar práticas sustentáveis no seu dia a dia, como a economia de água e energia elétrica, a separação de resíduos para reciclagem e o uso de materiais biodegradáveis, práticas que podem ser levadas para a rotina individual de cada profissional.

Assim, os treinamentos também podem sensibilizar os funcionários sobre a importância da sustentabilidade e incentivá-los para a adoção de práticas sustentáveis também fora do ambiente de trabalho – uma atitude que, para além do mundo corporativo, impulsiona o desenvolvimento sustentável no Brasil.

Claro, talvez haja necessidade de uma mudança cultural profunda, mas um treinamento como os que pensamos na jornada de Desenvolvimento Organizacional que elaboramos na Hult EF pode ajudar nessa missão.

Outra preocupação crescente em empresas ecológicas deve ser a logística reversa, que consiste na coleta e na restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento ou outra destinação final ambientalmente adequada.

Essa atitude, alinhada ao princípio do desenvolvimento sustentável, evita que esses materiais sejam jogados em lixões ou no meio ambiente, o que causa danos à natureza e à saúde das pessoas.

Desde 2010, com a instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos, alguns setores são obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, incluindo embalagens e resíduos de agrotóxicos e de óleos lubrificantes, pilhas e baterias, pneus, lâmpadas fluorescentes e produtos eletroeletrônicos.

Mas o Planares, de 2022, institui metas para a logística reversa de todos os tipos de embalagem, e é uma das ferramentas principais para aumentar os índices de reciclagem no país. Para tanto, o Governo Federal também institui um programa de crédito de reciclagem, que, segundo o Ipea, deve reduzir custos das empresas.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos não é a única lei regulando o desenvolvimento sustentável no Brasil. Uma lista não exaustiva inclui ainda, por exemplo, a Política Nacional do Meio Ambiente, de 1981, a Lei de Recursos Hídricos, de 1997, e a resolução de Tratamento de efluentes do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), de 2011.

O respeito às leis ambientais, além de ser uma prática obrigatória, é importante para todas as empresas que desejam atuar de forma sustentável. É importante que o líder de uma companhia conheça as leis e regulamentações ambientais do seu país, estado ou município.

Adotar uma postura de liderança sustentável pode trazer benefícios tanto para as empresas quanto para a sociedade: além de contribuir para a preservação do meio ambiente, as organizações podem melhorar sua reputação e atrair consumidores e investidores conscientes.

A pesquisa global "Elementos de Valor", da Bain & Company, por exemplo, mostra que os consumidores esperam qualidade e sustentabilidade das empresas. Além disso, uma empresa ecológica ganha vantagem no competitivo mercado de talentos.

Segundo a pesquisa Workmonitor 2023, da Randstad, 77% das pessoas entrevistadas consideraram importantes os valores e objetivos do empregador no que se refere à sustentabilidade, diversidade e transparência. E mais de 40% dos entrevistados afirmaram que recusariam um emprego que não estivesse alinhado aos seus valores sociais e ambientais.

A cultura e o aprendizado têm papel fundamental nessas transformações ambientais, tão necessárias para as organizações do futuro quanto a diversidade e o impacto social. Em nosso programa Fundamentos Empresariais, exploramos as competências necessárias nos tempos atuais, em que um dos destaques é a liderança com propósito, que serve exatamente para guiar as empresas nesse período atual, marcado por mudanças profundas nas práticas de gestão.