Ter inclusão racial como parte genuína dos valores da empresa, revisitar projetos de seleção tendo a diversidade como parâmetro, proporcionar uma real integração dos profissionais contratados nos times e compartilhar histórias de vida distintas são as principais questões para trilhar o caminho da Diversidade & Inclusão no universo corporativo que Carlos Eduardo Domingues, Head de Change Mgmt, Cultura, EVP e D&I da PepsiCo no Brasil, dividiu comigo, Eduardo Santos, Country Manager da Hult EF no Brasil, em um bate-papo inspirador sobre nossas experiências e aprendizados na jornada de implementação da inclusão.
“Eu não vim de um lar negro ativista e, até 2010, quando conheci minha esposa, que não é negra, achava que estava tudo bem em relação a isso. Mas ela começou a reparar alguns comportamentos das pessoas em certos ambientes em que eu não estava e também passei a perceber ser o único negro em alguns locais que frequentávamos, como restaurantes por exemplo. Com o tempo, fui me interessando mais e, desde então, estudei muito sobre a história do negro no Brasil e na América. Toda essa vivência me deu repertório para estar onde estou hoje. Eu sempre trabalhei em empresas familiares e menores e, quando cheguei à PepsiCo, achei que encontraria uma indústria de alimentos e bebidas tradicional. Foram algumas entrevistas para chegar ao cargo e, a cada uma delas, ia me chamando mais a atenção para o tipo de compromisso, genuíno, que a empresa possui referente a pautas tão importantes para mim, como a Diversidade. Em uma das conversas, falamos sobre o meu papel, com informação de que eu poderia ser um agente de mudança e transformação dessa realidade socio-racial em nosso país, e me apoderei disso.”
A mudança começou a ser implantada com fortalecimento de programas já existentes e criação de outras iniciativas, tendo como objetivo a intenção de aumentar a diversidade na empresa para refletir a pluralidade da população que forma o Brasil e que consome os produtos da própria companhia. “Fazemos isso alimentando as pessoas de conhecimento e informação. É muito importante ter diversidade racial, mas, além de ter a representatividade de negros dentro da companhia, quais são as ferramentas para eles se desenvolverem no ambiente de trabalho?”. A Hult EF compartilha desse valor e, como time, trabalhamos tendo o poder transformador da educação como guia. Ser um negro em cargo de liderança não é um privilégio, é um fardo até bem pesado, e, por isso, precisamos acelerar a jornada de mudança. Para que exista diversidade na liderança, os futuros líderes precisam se capacitar para isso e a inclusão passa também por dar confiança a uma pessoa dentro de uma empresa multinacional e instaurar maneiras para que ela evolua profissionalmente.
Na PepsiCo, entre as ações para implementar a diversidade e inclusão está a criação de uma mentoria, programa que qualifica profissionais negros da operação da empresa no Brasil. Ainda sobre a questão de diversidade a empresa investe estrategicamente na comunidade, com o programas de língua inglesa para que jovens negros e negras de São Paulo se qualifiquem no idioma para ocupar posições em multinacionais. O programa tem duração de dois anos e conta com mentoria de executivos da própria empresa. Além disso, a companhia fechou recentemente uma parceria com a Hult EF, oferecendo curso de inglês para 20 jovens trainees negros, com o objetivo de prepará-los para o futuro. “A nossa expectativa com o programa é ser benchmark quanto ao uso e aplicabilidade do idioma pelos beneficiados e acreditamos que em um ano seja possível ver os resultados desse investimento que a PepsiCo e a Hult EF estão fazendo juntas. Queremos rastrear toda a agenda de treinamento para estabelecer uma onda de atratividade e engajar os participantes mostrando valor, para que o aluno se sinta motivado e tenha a disciplina necessária para estudar. Do ponto de vista de RH, estamos muito felizes com o formato com o qual estamos trabalhando, por ser disruptivo, inovador e diferente do que estávamos acostumados.”
A agenda não para por aí. A empresa também tem questionado os sistemas, como, por exemplo, os processos de recrutamento. “Os processos tradicionais estão desenhados de uma forma que inevitavelmente vai trazer menos diversidade, porque olham para universidades elitizadas, entre outros parâmetros. Precisamos fazer adequações que gerem resultado. Temos que alinhar os processos de seleção com os líderes da empresa e explicar as histórias dessas pessoas, pois é muito importante entendê-las. Por exemplo, fala-se sobre a obrigatoriedade da língua inglesa, mas em algumas áreas isso não é determinante na contratação. Então, flexibilizamos essa exigência em nossos processos seletivos e trabalhamos internamente para acelerar esse aprendizado do idioma depois da contratação.”
Vale pontuar que os processos de mudança internos são imensos na jornada de inclusão e, como Carlos faz questão de destacar, a inclusão não acontece de uma hora para outra. Trata-se de uma jornada. Por isso, ele listou os passos principais para trilhar a implementação de programas de diversidade nas empresas.