O copo meio vazio
Em 1987, o chamado Relatório Brundtland, da ONU, propôs o conceito de desenvolvimento sustentável, aquele que atende às necessidades do presente, sem comprometer a qualidade de vida das gerações futuras. Foram anos de pesquisas e, dado o tom neutro, o documento não provocou grandes comoções. Tampouco garantiu resultados práticos. Mas não dá para negar que teve o mérito de dar início a uma discussão mais ampla sobre aquecimento global, pobreza, perda de biodiversidade e questões afins.
Em junho de 1992, vimos mais de 100 chefes de estado se reunirem no Rio de Janeiro para a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento - a Cúpula da Terra. Entre seus principais resultados estão a Agenda 21, um roteiro para países e cidades sobre como crescer e resolver problemas sociais e ambientais, além da criação da Convenção do Clima, da Convenção para a Biodiversidade e da Convenção de Combate à Desertificação.
Dois anos depois, o termo triple bottom line foi cunhado por John Elkington, líder da empresa de consultoria SustainAbility. Conhecemos, assim, o tripé da sustentabilidade, que propôs às empresas basearem suas gestões na tríade People (Pessoas), Planet (Planeta) e Profit (Lucro). Sem dúvida, demos mais um passo na ressignificação de crescimento e desenvolvimento nas organizações.
Em 2006, assistimos à The Inconvenient Truth, de Al Gore, então candidato à presidência dos EUA. O premiado documentário deu nova vida aos movimentos ambientalistas, sensibilizando a opinião pública internacional sobre as mudanças climáticas.
Em 2015, os 193 países da ONU criaram a Agenda 2030 com os 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e 169 metas para erradicar a pobreza extrema e a fome; cessar a degradação do meio ambiente; oferecer educação de qualidade para todos e promover sociedades pacíficas e inclusivas.
E chegamos, em 2021, à COP26: a 26ª (isso mesmo!) Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas. O evento terminou com dois dias de atraso porque os participantes não conseguiram chegar a um acordo sobre suas propostas. Entre as frustrações para quem acompanhou o trabalho em Glasgow está a mudança de última hora no texto final: ´eliminação´ das emissões de carbono foi substituído por ´redução´. Troca sutil, mas que faz muita diferença no resultado desejado. Outro revés foi o adiamento das metas do Acordo de Paris para 2030.
Essa curta linha do tempo acompanha a evolução da discussão a respeito do papel do setor privado nos esforços do que é chamado de ESG (Meio Ambiente, Social e Governança), desde os tempos de Levitt e Friedman.
Do alto de minha visão privilegiada de técnico de segunda-feira ou engenheiro de obra pronta, me atrevo a dizer que, especialmente em relação à COP 26, os resultados práticos são pífios, diante do tempo e energia aparentemente despendidos nessa discussão. O call to action é contundente (veja o vídeo de chamamento no site da COP26), mas faltam ação e resultados concretos. O que se conseguiu para além dos nomes pomposos e encontros de gente rica e famosa em lugares chiques?
Meu diagnóstico: o ´G´ de governança vai bem, mas atende à manutenção do status quo. Se não, vejamos a definição do IBGC para governança: traduz os princípios e valores de uma organização em ações de impacto positivo na gestão da empresa. Ou seja, muita agitação para ficar tudo na mesma.
Se a Conferência de Glasgow fosse uma empresa, esses prazos elásticos e escassez de resultados já teriam causado a troca do seu time de executivos. O que falta é liderança e gestão. O movimento possui uma liderança difusa incapaz de aglutinar esforços e transformá-los em ação prática e resultados. Momentos de transformação radical no passado contaram com líderes fortes, como Gandhi, Churchill, Martin Luther King e Tatcher. Do mercado corporativo, cito Louis Gerstner e Coco Chanel.
Ainda fazendo um paralelo da CPO26 com o mundo dos negócios, não enxergo na equipe que lidera a Conferência certas atitudes que valorizamos e desenvolvemos nas lideranças empresariais.