Como as organizações podem construir hoje culturas de IA éticas para o futuro?

Em um cenário não regulamentado, cabe aos líderes mapear uma estratégia ética de IA e levar toda a força de trabalho nessa jornada com eles.

Como as organizações podem construir hoje culturas de IA éticas para o futuro?

Em um cenário não regulamentado, cabe aos líderes mapear uma estratégia ética de IA e levar toda a força de trabalho nessa jornada com eles.

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Após nosso artigo, “O que a inteligência artificial pode oferecer à prática profundamente humana do coaching?”, discutimos formas de preparar os líderes para os desafios de um mundo ligado à IA. Para capacitar sua força de trabalho, os líderes devem se concentrar em transparência, comunicação honesta e aprimoramento das habilidades profissionais - dentro de um quadro ético claro.

Recentemente, o Fundo Monetário Internacional estimou que quase 40% dos empregos em todo o mundo serão afetados pelo avanço da IA, podendo chegar a 60 por centos nas economias avançadas. Isso terá consequências significativas para todas as organizações e força de trabalho. Sabemos que a IA oferece imensas oportunidades de inovação, mas “ficamos entusiasmados sem perceber o que está causando esse entusiasmo ou qual tipo de desvantagens vamos enfrentar”, pondera Terence Tse, Professor de Finanças na Hult International Business School. E as organizações estão, em grande parte, despreparadas para implementar a IA.

Diante de tecnologias digitais avançadas, como a IA, a natureza da liderança precisa de uma mudança e os líderes de RH e outros departamentos podem utilizar a sua inteligência organizacional para garantir que a IA desempenhe um papel positivo em suas empresas. Eles devem desenvolver uma abordagem ética e centrada no ser humano, estabelecendo confiança e fazendo com que as pessoas se sintam confortáveis com a IA. “É necessário que eles próprios adquiram mais conhecimentos digitais e que toda a força de trabalho também seja aprimorada”, afirma Priya Guha, MBE, Professora Adjunta da Hult International Business School. “Ao apoiar a compreensão da tecnologia por parte dos funcionários, eles se tornam capazes de fazer bons julgamentos sobre a IA”.

Integre a ética na estratégia de IA

Atualmente, não existe um quadro ético obrigatório para a IA em nível nacional ou internacional, como o Código Internacional de Ética Médica da Associação Médica Mundial. Em vez disso, as organizações precisam apenas aplicar princípios voluntários genéricos como responsabilidade, justiça e transparência ao seu trabalho na IA. Os líderes devem procurar criar sistemas de IA transparentes e livres de qualidades negativas como a discriminação e o preconceito. “Essas questões éticas não estão sendo debatidas ou levadas a sério de forma suficiente”, afirma Piper Frangos, doutoranda do Laboratório de Liderança da Hult International Business School. “Receio que seja necessário acontecer algo catastrófico para criar uma urgência tal que os líderes comecem a pensar sobre essas questões e integrá-las na sua estratégia”.

“Se você é um líder com visão de futuro, terá que estabelecer práticas éticas básicas de IA que podem ainda não estar incorporadas em termos de legislação”, diz Guha. “É um ótimo exemplo de como você, na posição de líder, precisa pensar sobre como sua própria forma de adotar a IA se relaciona com os valores e a missão de sua empresa”. Ela acrescenta: “A realidade é que teremos de recrutar pessoas que pensem na ética e nos valores em conjunto com o recrutamento de profissionais puramente da área de tecnologia”. Um aspecto do papel do “especialista em ética da IA” será garantir que a organização adote uma cultura de IA centrada no ser humano.

Reconheça as percepções e os temores dos funcionários

A velocidade da transformação impulsionada pela IA pode parecer assustadora. “Quase todos os dias aparece algo novo, que muda a forma como as coisas funcionam ou que até mesmo muda completamente o cenário”, diz Tse. Por isso, as forças de trabalho devem se acostumar ao conceito de incerteza evolutiva. “Não haverá necessariamente um objetivo final que você possa expressar de forma clara, mas é preciso que os funcionários se sintam confortáveis com essa jornada”, afirma Guha.

O que os líderes devem fazer é levar seus funcionários com eles nessa jornada, de modo a minimizar a sensação de medo e incerteza.

Priya Guha, MBE, Professora Adjunta da Hult International Business School.

Uma resposta negativa à IA pode facilmente levar à inércia. “As pessoas se afastam das ferramentas e oportunidades relativamente simples que podem ser facilmente adotadas na maioria das empresas tradicionais”, diz Guha. Como as organizações devem, então, permitir que os líderes levem os colaboradores na jornada da IA?

Incentive uma conversa bem fundamentada sobre a IA em toda a organização

Os líderes precisam e saber o suficiente sobre a IA para tomar decisões confiáveis sobre a tecnologia, que tornem o seu negócio mais produtivo. E reconhecer os limites do seu conhecimento é uma parte fundamental da adoção da IA, explorando novas ideias e aprendendo com uma variedade de fontes. “Quanto mais a liderança tiver conhecimentos digitais e quanto mais conversas tiver com as diferentes equipes de liderança, maior será o impacto conseguido”, afirma Frangos.

Comunicação, transparência e confiança devem estar enraizadas na cultura do local de trabalho. Por isso, é importante ter uma mentalidade inclusiva para envolver os funcionários nas conversas desde o início da concepção das soluções de IA. “Há uma oportunidade para o RH”, diz Frangos, “atuar como um canal entre a liderança e toda a empresa, incorporando a IA em um diálogo contínuo que flui em todos os níveis”.

Não menospreze o impacto – aprimore as habilidades da força de trabalho

Os líderes seniores devem assumir a responsabilidade pelos programas de ensino em toda a organização para garantir que as pessoas entendem a IA, o que ela oferece internamente e como as soluções baseadas em IA se encaixam no cenário competitivo. “Estamos atrasados no reconhecimento da necessidade de um aperfeiçoamento quase constante das habilidades da força de trabalho”, afirma Guha. Seja qual for o departamento no qual se encontrem - RH, jurídico ou marketing - as pessoas estarão usando a IA de alguma forma para se tornarem mais eficazes. Todos precisam aprimorar suas habilidades profissionais e cabe aos líderes reconhecer que isso não se aplica apenas a uma pequena parte da sua organização.

As pessoas devem ser incentivadas a experimentar uma variedade de ferramentas de IA, tais como modelos de aprendizagem de grande dimensão como o ChatGPT, para que se sintam confortáveis com a sua utilização. “Defina os parâmetros - para o que as pessoas podem ou não podem utilizar essas ferramentas”, diz Tse. “As pessoas passarão a confiar mais na IA, vão descobrir que a tecnologia não será prejudicial a elas e nem criará ansiedade”. Os departamentos de RH têm um papel fundamental a desempenhar no aprimoramento das habilidades - avaliando a experiência dos funcionários, sua familiaridade com a IA e as habilidades na empresa como um todo, antes de elaborar a estratégia global.

Comece já a planejar o futuro ético da IA

À medida que a IA amadurece e começa a resolver problemas empresariais complexos, além de se alinhar ás funções e responsabilidades das pessoas, a aceitação da tecnologia por parte dos funcionários irá aumentar. Isso requer planejamento estratégico, investimento a longo prazo, honestidade e transparência por parte dos líderes sobre o potencial impacto exercido sobre os funcionários. “Se conseguirmos fazer as coisas bem em nível individual e organizacional”, diz Frangos, “a esperança é que estejamos construindo uma tecnologia ética e benéfica para o futuro”.