Gestão de Recursos Humanos para o futuro das empresas

Em um cenário de transformações, cabe aos líderes de RH estarem atentos às tendências e apostar em habilidades transferíveis, soft skills e educação como principais ferramentas para preparar o profissional do futuro.

Já era clichê há alguns anos dizer que as tecnologias estavam transformando o mundo, mas também é inegável que tais avanços não só continuam ocorrendo, como também as mudanças acontecem de modo cada vez mais acelerado. Vivemos em uma profusão de plataformas de Inteligência Artificial que prometem, além de revolucionar as atividades que já existem, criar muitas outras. Nesse cenário, o CHRO (Chief Human Resources Officer) – assim como as demais posições na gestão de RH – tem como principal missão a desafiadora tarefa de preparar profissionais para um futuro em constante transformação no curto prazo e imprevisível em muitos aspectos no longo prazo.

No entanto, embora seja impossível saber exatamente como vai ser o amanhã do mundo corporativo, há muitos insights que apontam para onde as corporações devem olhar. É o caso, por exemplo, de uma pesquisa da McKinsey & Company que contou com 18 mil profissionais de 15 países, incluindo Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Reino Unido, China, Japão e Brasil.

A conclusão mais superficial desse estudo foi que, com o processo de automação e o desenvolvimento das IAs, a busca por habilidades manuais e cognitivas básicas vai diminuir, enquanto o desenvolvimento de competências de alto nível cognitivo, habilidades interpessoais, auto-liderança e competências digitais estarão em alta demanda.

A pesquisa da McKinsey lista 56 habilidades fundamentais para os profissionais do futuro, chamadas de DELTAS, acrônimo em inglês para distintos elementos do talento, que são competências e atitudes que devem ser desenvolvidas em quatro categorias: cognitivas, interpessoais, digitais e de auto-liderança.

Entre as habilidades identificadas no estudo como fundamentais estão desde "Resolver conflitos" e ter "Escuta ativa" até o desenvolvimento de "Pensamento algorítmico" e "Ética digital". Para chegar aos DELTAS foram tomados como base três critérios essenciais para o trabalho nas próximas décadas:

●      Adicionar valor além do que pode ser feito por sistemas automatizados e máquinas inteligentes;
●      Operar bem em ambientes digitais
●      Aumentar a adaptabilidade para novas formas de trabalho e novas profissões.

Além desses três destacados pela McKinsey, outro caminho para o qual aponta o futuro pode ser visto nos passos que Armando Lourenzo, Learning Director da consultoria Ernst & Young no Brasil e na América Latina, compartilhou com Hult EF, que refletem o que é preciso para ter sucesso como um profissional do futuro.

Entre as diversas exigências, Lourenzo destaca quatro soft skills como essenciais para o profissional do futuro:

●      Adaptabilidade;
●      Learning agility;
●      Inteligência emocional;
●      Relacionamento interpessoal.

Nesse novo ambiente que vem se construindo, há uma busca crescente para os postos de gestão em Recursos Humanos por profissionais que possuam habilidades transferíveis – aquelas que não são exatamente as competências comportamentais e emocionais clássicas das soft skills, mas uma mistura de atitudes e conhecimentos técnicos que podem ser aplicados em diferentes contextos e empregos, independentemente da área de atuação específica.

Entre as habilidades transferíveis estão, por exemplo, conhecimento em tecnologia da informação, gerenciamento de projetos, liderança de equipes e capacidade de comunicação e de resolução de problemas, além das habilidades interpessoais.

Nesses tempos de transformações, a adaptabilidade – a capacidade de se adaptar rapidamente a novos ambientes, situações e tecnologias – também ganha bastante importância na lista de skills a serem desenvolvidas, e é citada com destaque em diversas listas e pesquisas. O gerenciamento de tempo ganhou destaque no mundo corporativo pós-pandemia e os novos arranjos na rotina de trabalho.

Os líderes de recursos humanos também precisam ser eles próprios o modelo do que é o profissional do futuro. A gestão de RH é no modelo atual – e será assim de modo perene – extremamente estratégica para as empresas. É o gestor de Recursos Humanos que deve apoiar as pessoas na jornada em meio a diversas transformações pelas quais as companhias têm passado – sejam elas tecnológicas ou de diversidade e inclusão, por exemplo. Ao mesmo tempo, cabe aos líderes de RH garantir a qualidade dos negócios.

Pensando no desenvolvimento de profissionais que estejam preparados para o futuro, seja qual for a transformação com a qual lidaremos adiante, alguns pontos devem ser levados em consideração. O primeiro deles é, exatamente, identificar competências-chave do futuro. Para isso, o líder de RH deve, acima de tudo, estar atento às tendências e às mudanças do mercado de trabalho.

Com essa informação disponível e sistematizada, cabe a gestão de Recursos Humanos fornecer oportunidades de aprendizado, permitindo aos funcionários desenvolver e aprimorar tais habilidades.

Lourenzo, da E&Y, destaca três pilares como muito importantes para o desenvolvimento do profissional do futuro. O primeiro é a educação, como é oferecida em treinamentos pelo RH. Em seguida vem o aprendizado com profissionais mais experientes a partir de mentoria de pessoas de nível sênior. E o terceiro ponto que ele traz como essencial é a possibilidade de ter experiências que incluem situações como viver no exterior e aprender um novo idioma.

Na questão da educação, cabe ainda ressaltar a importância em fomentar uma cultura de aprendizado contínuo, com programas que incentivem os funcionários a participar de treinamentos ou que promovam a troca de conhecimento entre os quadros da organização.

A escolha de parceiros também é fundamental para o sucesso no campo de T&D. Na Hult EF, pensando nesse segmento, desenvolvemos o programa Business Foundation, em que trabalhamos exatamente com essas competências, que são fundamentais em ambientes ágeis, globais e que necessitam de alto grau de colaboração entre os times.

No entanto, embora o desenvolvimento de uma cultura organizacional moderna dependa também de outros pontos, como incentivar a diversidade e inclusão e saber usar as novas ferramentas de tecnologia e automação, a mudança pode começar com uma coisa tão simples quanto se preocupar com as pessoas da organização.

É como disse à Hult EF David Watkins, conselheiro da iVentiv e Vice-Presidente Sênior de Talentos, Transformação e Engajamento de Grupo da Oerlikon: "O que há de diferente no RH à medida que avançamos para o futuro é que há uma necessidade crucial de ouvir o que os profissionais desejam e garantir que uma boa experiência será proporcionada aos profissionais do começo ao fim".

A experiência, diz Watkins, não é um clichê corporativo: é uma mudança de foco com a qual todo RH deve se preocupar. As empresas que valorizam seus colaboradores e investem em seu desenvolvimento têm uma vantagem competitiva significativa, com impacto direto na produtividade e nos resultados financeiros – o que faz dessa área um investimento estratégico para o futuro das companhias.

O avanço da tecnologia e as mudanças comportamentais da sociedade têm criado novos desafios para as organizações, e a gestão moderna das áreas de Recursos Humanos é crucial para enfrentá-los com sucesso.